sábado, 27 de março de 2010

Meio ambiente

Poluição no rio Mossoró: um problema de todos




Thiago Mielle (o segundo na foto, da esquerda para a direita), técnico responsável pelo laboratório de Química da UERN e membro do projeto “Rio Apodi-Mossoró: integridade ambiental a serviço de todos”, concedeu uma entrevista a Ellano John, ex-aluno do MD. Os dados são de estarrecer!
P: Quais as condições do saneamento básico nas cidades por onde o rio passa?

R: Quase 90% das cidades têm um estado crítico de saneamento. Mossoró, por exemplo, tem uma rede de esgoto, mas o problema é onde esse esgoto vai chegar. Grande parte deles, sejam hospitalares, industriais ou residenciais, são lançados diretamente no rio, e o pior, sem nenhum tratamento. Não que uma água de esgoto não possa ser lançada num rio, ela pode, desde que passe anteriormente por um processo adequado. Mas aqui não existe isso.

P: Que pesquisas foram realizadas dentro desse projeto e quais problemas foram identificados?R: Foi feita uma identificação das espécies ao longo do rio. A mata ciliar está bastante degradada. Muita gente diz: “Mas eu passo ao lado do rio e vejo muito verde”. Porém aquele verde é das algarobas, plantas exóticas que têm raízes rasas, o que provoca a erosão do solo, e crescem de forma desordenada. Outro fator bem preocupante que nós encontramos foi a presença de metais pesados no sedimento, como nitrato, nitrito, amônia, alumínio. E os valores encontrados comprometem a qualidade da água.

P: O que essas substâncias podem provocar no organismo humano?
R: Em relação aos nitrogênios, há uma série de estudos que associa o câncer de estômago à água de má qualidade. E os metais, que são substâncias altamente tóxicas, podem causar uma série de enfermidades. Por exemplo, o excesso de alumínio é associado ao Mal de Parkinson e ao Mal de Alzheimer. Para vocês terem uma idéia, quando o nitrato entra na corrente sanguínea de uma mulher gestante, “rouba” o oxigênio da criança e ela nasce com uma coloração azulada. Por isso, essa doença é conhecida como doença do bebê azul, cientificamente chamada de metemoglobinemia. Na cidade de Grossos, há alguns anos atrás, foram detectados casos dessa doença em mulheres que catavam mariscos na foz do rio.

P: Há alguma passagem do rio em que a água seja apropriada para consumo?
R: Alguns pontos apresentam resultados mais amenos em relação a outros. Por exemplo, na cidade de Governador Dix-Sept Rosado, a água é bem límpida, não há uma contaminação muito alta, no entanto é uma região onde há muito assoreamento do rio. Há muitas estradas de terra próximas ao rio. E o que acontece? Com o fluxo das águas, essa terra vai sendo levada para o leito do rio e acaba interrompendo o fluxo normal. Em algumas partes já se percebe a formação de pequenas ilhas. Isso é muito ruim, porque vai cobrindo o rio com terra e pode até impedir a vazão das águas. Na região das nascentes, a agricultura é muito forte, e com um rio passando ao lado, quem vai querer plantar longe? Seria mais trabalho. Então eles plantam, muitos usam agrotóxicos... Quando chegamos em Pau dos Ferros, há matadouros e frigoríficos de frango abatendo animais e jogando seus efluentes dentro do rio. Sem falar nos lixões e na quantidade de animais que vivem à margem do rio. É uma situação bem crítica. Na região das salinas, há os resíduos da carcinicultura, das águas-mães das salinas. Então, o rio tem sido o destino final desses resíduos e isso nos preocupa demais.

P: Quando a gente passa pelas pontes, vê aquela quantidade imensa de aguapés, praticamente cobrindo todo o rio. Eles são positivos para a natureza?


R: O aguapé é uma planta muito especial. Ele só surge onde há uma grande concentração de nutrientes. O nitrato e o fosfato são nutrientes que nós chamamos de limitantes, ou seja, de acordo com as suas concentrações é que essas espécies de aguapés podem vir a se desenvolver. No centro de Mossoró, as concentrações são bem significantes, porque existem verdadeiros lençóis de aguapés no entorno do rio. Essas plantas são bioindicadores de poluição, de matéria orgânica em decomposição. Quando há um excesso desses nutrientes, elas os absorvem, tanto na raiz quanto nas folhas. E o que acontece? Se não houver um manejo adequado, as plantas, como todo ser vivo, vão morrer e redepositar tudo o que elas absorveram novamente no rio. Então acaba virando um ciclo contínuo. E como o rio aqui em Mossoró foi represado, o esgoto continua sendo lançado, a água fica “rica” desses nutrientes, os aguapés vão gostando e vão tomando conta de todo o rio, prejudicando a manutenção da vida aquática da região. Ao formarem uma capa sobre o rio, os aguapés impedem que a luminosidade entre na água. O processo de fotossíntese é diminuído e as espécies submersas não têm como viver sem o oxigênio necessário à sua sobrevivência.

P: Na sua opinião, o que é preciso para reverter esse quadro?
R: Por mais caro que seja, acho que as Prefeituras poderiam fazer um trabalho junto com o Governo do Estado para adotar medidas mitigadoras da poluição. Só que de que adianta montar toda uma estrutura de tratamento e a própria população que sofre com esse dano continuar lançando resíduos? Não existe nenhum trabalho de pesquisa científica que obtenha resultados significativos sem que haja a conscientização da população. A educação ambiental é a chave para esse problema.

P: E que medidas a gente pode adotar no dia a dia para contribuir com a despoluição do rio?
R: Ótima pergunta. Por exemplo, quando a gente faz uma fritura em casa, a quantidade de óleo é bem significativa. Quando terminamos, o que fazemos? Geralmente jogamos na pia. Ao invés de jogar na pia, podemos colocar num vidrinho com o nome “lixo orgânico”. Aqui na UERN, o professor Luís de Souza tem um trabalho muito bonito. Ele recebe óleo usado, trata o óleo e faz sabão em barra. Outras formas são participar da coleta seletiva, reduzir o consumo de materiais biodegradáveis e conscientizar as pessoas.

P: Que mensagem você deixaria para os alunos do Moreira Dias?


R: Eu diria que uma pessoa sozinha não é capaz de despoluir um rio, mas uma comunidade de mãos unidas poderá dar o primeiro passo para que nós possamos ter uma qualidade de vida melhor num futuro bem próximo.

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